terça-feira, 28 de setembro de 2010

fotografia dos sentidos XXXV

(ao dia que vem depois de agora)
 

Arte: F. Minto
agraciados pela língua
- essa labareda
essa massa de baba ávida por pele –
chegamos a mais um dia
mais um agrado de sol
de um belo dia de belas línguas
de corpo que se deixa
largado
se enovelar por ele mesmo
corpo cheio de corpo
de dente
de língua
de calor
de dia
corpo pleno de dia é corpo realizado!
é corpo vivo
e ser vivo é sentir que cantamos por dentro
é sentir que um pé de alguma coisa
(pode ser amora?)
se movimenta
assim como se fosse uma língua
língua de papel
daquelas que se juntam
umas às outras
e querem dizer coisas que não são ditas
porque língua não fala
língua lambe.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

sexta-poesia

o secreto serviço do apego...
(que acontece pouco a pouco)
e numa manhã de ventos fortes
me identifico no teu cheiro

bobagens românticas?
flores na janela?

o mar de prontidão na minha porta não me deixa mentir:
os cílios pela manhã estão esbranquiçados de maré

baixo meus sentires
sento na soleira e aguardo as flechas entrarem no coração
abrasado

terça-feira, 21 de setembro de 2010

o navio que margeia o mundo

de dentro do navio que margeia o mundo ouvia-se o apito da maré,
camuflada de ondas cósmicas
e cometas imaginários.

sobretudo o tempo,
que hoje mergulha tragos desconexos,
enveredava os sons acobreados de areia granulada.

era dissabor?
era um sentir dor?
era ópio contemporâneo adeusdizendo àqueles:
saudades invernais.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

serpentes carmim, rubras nuvens de vontade; chuva para abrandar os humores

Não calculo as palavras que transitam pelos sentimentos
Pés, mãos, órgãos do olfato
– quando a pele também respira o cheiro do vento –
Busco me posicionar bípede, não sei bem por que ou para que,
Ver o que vejo de outros ângulos;
Faço a todo instante mesmo de pé.

O horizonte me escapa
e vejo infindos argumentos para não estar aqui.
Dobro a esquina de uma correnteza.
Mentalmente desfaço as cores,
E me pinto de canetinha com gliter.
Nada é mais vivaz que o brilho estonteante da água

 Me insignifico tomando a rua à direita.
Acho que é melhor ir sentir o cheiro das panelas no fogão.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

fotografia dos sentidos XIII

Arte: F. Minto
ela pegou a lua com
as duas mãos

amarrou num barbante
e correu pela praia

...empinando a própria vida...

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

SEXTA-POESIA

pensando bem
teremos tempo para comemorar
teremos tempo...
verde.
um tempo verde e cheio de sol.

 nesta nossa vida de hoje
apenas bebericar risadas leves
frescas
jasmim.

no átrio, um boi muge.
enroscam-se as mãos
enlaçadas, na verdade
e o vemos ruminar.

minhas lembranças aparecem
com a seiva viva da baba
nada, nada de achar que o mundo foi demais
que os risos foram demais
que os amores foram demais.

o tempo tem meu cheiro
rastejante entre a folhagem