quarta-feira, 27 de abril de 2011

para uma nova gramática, por Viviane Mosé

para uma nova gramática:

imaginei um sentimento água. um sentimento árvore. uma agonia vidro. uma emoção céu. uma espera pedra. um amor manga. um colorido vento sul. um jeito casa de ser. uma forma líquida de pensar. uma vida paredes. uma existência mar. uma solidão cordilheira. uma alegria pássaro em chuva fina. uma perda corpo.

acho que hoje acordei semente. tenho andado muito temporal. minha irmã vive um momento tudo. a vida às vezes transborda pelos poros. me atinge um estado livro. aurora meus joelhos. tem pessoa ponte. algumas carregam a gravidade nas costas. já conheci gente buraco negro. eu amo o instante limo. tem um branco em mim. a vida me urca. sofro de saudade anônima. palavras me beijam a boca.


Viviane Mosé

Poema da sequência de "poemas presos", de Viviane Mosé

muitas doenças que as pessoas têm são
poemas presos
abscessos tumores nódulos pedras são
palavras
calcificadas
poemas sem vazão

mesmo cravos pretos espinhas cabelo
encravado
prisão de ventre poderia um dia ter sido
poema

pessoas às vezes adoecem de gostar de palavra
presa
palavra boa é palavra líquida
escorrendo em estado de lágrima


Viviane Mosé

quarta-feira, 13 de abril de 2011

o sabor do beijo
supera o drama
ignora as artimanhas que usei
ganha todo dia aguçadas nuances
do verão que há em ti

o alimento diário do amor
a fome primeira do corpo
união fluida do olhar

te beijo por querer
te beijo por prazer
te beijo e me beijo no teu beijo
te beijo e me beijas te beijando
me beijas e te beijas
me beijando assim...
só por beijar

segunda-feira, 11 de abril de 2011

strange days...
vamos sair desse casulo que nos aprisiona.
vamos gritar, espernear,
virar criaturas da noite
à procura de sangue e diversão.
vamos ser borboletas azuis voando pelo jardim;
um jardim in blum.
garota perdida,
devaneios de um dia chuvoso,
devaneios de mente insana.
é real a marca do lagarto,
ele passou pelo jardim, tocou a corneta
e gritou teu nome: seis, sete letras!
que vida!
quem sabe aqui no fundo eles me peguem...
uma asa azul,
vomitando fogo pelas entranhas.
que dia!
ele me pegou.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

poesia para olhar

pés no chão
a cabeça roda nos poentes rosados
pião, bicicleta, bambolê
brincadeira de ver formas nas nuvens

no paraíso das imagens
nada melhor do que soltar a mente
lisergicamente
nas paisagens deste cotidiano verde de mata

o horizonte acumula no olhar