terça-feira, 29 de junho de 2010

Fotografia dos Sentidos XXXIV

arte: F. Minto
gosto de roupas secas ao sol
brancas ao coco
perfumadas ao mar.

gosto de flores vivas a água
amareladas ao tempo
pétalas ao ar!!

gosto do amor versado ao luar
apaixonado ao olhar
abocanhado.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

SEXTA-POESIA

sexta-feira tem sabor de namoro
é o dia do festejo
da comunhão
da poesia dos lábios

a sexta das vontades básicas
das necessidades intrínsecas
dos desejos rosados de beijos

lua cheia uivante
calmamente irradia o espírito
de energia elástica
que enlaça amores
- pescadores de sereias
mar prateado de tensão flutuante

bebo sexta-feira todo dia

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Soneto ao Memorial de Saramago

Blimunda com os olhos de Deus vê o mundo
Sete-Luas, escuridão do Homem.
Come o pão, e as visões do ventre somem.
Do éter ao cosmo; antes ao fundo.

Maneta. Convém teu gancho fecundo.
Sete-Sóis, Sete-Luas: como pólen
Da passarola e Gusmão, super-homem.
Santidade d’alma no corpo imundo.

Vontades não constróem Mafra em pedra
Na abegoaria, o falcão já medra;
Pela crença etérea do povo, nasce.

De sermão enche El-Rei padre Lourenço
Para alcançar teu Eu, o céu extenso.
Que Deus o encontre p’ra firmar o enlace!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

PAULINHO DA VIOLA (ouça na Rádio Poesia)

Para ver as meninas
(Paulinho da Viola)

Silêncio por favor
Enquanto esqueço um pouco
A dor do peito
Não diga nada
Sobre meus defeitos
Eu não me lembro mais
Quem me deixou assim
Hoje eu quero apenas
Uma pausa de mil compassos
Para ver as meninas
E nada mais nos braços
Só este amor
Assim descontraído
Quem sabe de tudo não fale
Quem não sabe nada se cale
Se for preciso eu repito
Porque hoje eu vou fazer
Ao meu jeito eu vou fazer
Um samba sobre o infinito

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Fotografia dos Sentidos XII













arte: F. Minto

fragmentos de poemas
borbulham...
ferve a cor do sangue
o corpo é a casa dos sentidos
e dele sai
a obscenidade da beleza

a crueldade das palavras
nada mais é
do que a nudez
dos sentimentos...

sexta-feira, 11 de junho de 2010

SEXTA-POESIA

nessa vida irreal que se adorna diariamente por uma ficção consciente e interminável,

duas horas para sentar debaixo da figueira e sentir o vento adentrar os poros
enquanto ondulam-se os pesqueiros multicores, torneando a baía,
é difícil de encontrar
(mais a hora do que o pesqueiro);

amar calmamente numa nesga de um sol-de-fim-de-tarde qualquer
cheirando a acerola e manga,
enquanto outras insensatezes correm por fora dos corpos,
quase desacontece
(mais porque as insensatezes correm por dentro e a calma se esvai);

na irrealidade cotidiana, as bicicletas não têm asas e sobrevoam as nuvens
e muito menos há união de bocas doces de bolo confeitado
e picolé de pitanga tirada do pé.

você pode me dizer para quê é que serve essa bobeira de todo-dia
se as delícias da realidade não são impossíveis?

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Estive navegando...
foram tempos morando na alma do mundo.
Tempos que quando passam quase não se deixam;
rastejam pelo corpo
e somem em si mesmos: irreais.
O que passou não foi a apreensão do nada concreto.
Este tempo é o mar.
E o mar é o tempo incontável;
a segurança do impalpável, inóspito e etéreo.
É o tempo do estar da alma.

Estive navegando...
do último porto pulei dos rochedos
e perfurei a crosta d’água que segurava o mundo submerso.
Pés descalços, olhos abertos.
Caminhei a cidadela como cão.
Lambi os dorsos das casas.
Entendi.

Navio cargueiro,
é lenta sua partida.
De mala em punho, sento-me no prolongamento do cais.
Ouvido atento ao assovio de embarque.
A alma quer mais mar, mais vento.
Quer mais desenho, amplidão.
A alma quer mais alma; quer solidão.
A alma me quer.
Só.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

fotografia dos sentidos III
















(arte: F. Minto)

ela chorava...

enquanto a banda tocava
e os malabaristas fantasiados
tomavam a rua,
eu cheguei e a abracei.
queria levá-la para
um passeio no céu
queria mostrar-lhe
as nuvens e as estrelas
as músicas perfeitas.
mas ela chorava imóvel
sem poder dizer-me
quem a havia tocado.
o circo passou
e outras pessoas riam solitárias;
e a gélida garota
não disse nada.
chorou infinitamente
músicas insanas.