quarta-feira, 30 de março de 2011

tempo de sentir
a maré dentro de si.
 
o mar gordo levanta
rega as areias
as plantas
a casa toda.

pessoas cercadas de água
por todos os lados.

quinta-feira, 24 de março de 2011

fotografia dos sentidos XXVI

uma dor lancinante
urra do centro do meu corpo
como um ferimento de bala
e não de flecha

torpor! torpor!

inquietas,
minhas veias saltam:
bombeiam jatos de desespero.
a serotonina volatiliza-se
e esfria meu corpo
(meu invólucro de emoções pisoteadas).

terça-feira, 22 de março de 2011

dentro de casa
há um ciclone intratropical

é quente a atmosfera
e toma, de corpo a corpo
os humores chamejantes

- segue sensível
- marulho alardeante

(coloridos olhos cravados na nudez)

com o louvor dos dias correntes
os significados das palavras
fazem mais sentido
quando adjacentes

terça-feira, 15 de março de 2011

Fotografia dos Sentidos XXXVI

Arte: F. Minto
as pessoas das margens
aquelas que andam encostadas
nos muros
nos quebra-mares
aquelas pessoas dos becos
dos bares escusos
da boemia soturna

as pessoas das margens
que ficam à margem dos corações
que rodopiam à beirada da pista de dança
sentam nas mesas do canto
almoçam sozinhas

pessoas das margens no centro de minha atenção
(eu mesma me contornando...)

sexta-feira, 4 de março de 2011

sexta-poesia-pré-carnaval

do lado de lá, o transbordamento de uma nuvem imensa.

caem, paralelas à chuva, palavras de borracha
que não matam; deixam hematomas.

a cidade joga fora seus corpos enclausurados e úmidos;
aprisiona cabeças nos guarda-chuvas gelados
molhando os joelhos disrítmicos dos passos absortos em nada.

aqui, a folia bate forte no coração intenso.

as palavras entopem as artérias, batendo, poéticas, no solo asfaltado
(a simulação do sol deu início ao frevo).

um aperto de saudade do que ainda não veio.