De que parte de mim pode vir ou resplandecer este obscuro prazer em estar no limiar inexistente entre o certamente e o não; que de nenhuma forma tende ao improvável, sendo sempre levado ao cerne do alvo eco-regimentado que é a procedência ou a congruência de objetos, de desejos, e dos sopros de infindável leveza e prazer que regem sem cálculo os odores latentes destes, e não de outros, homo-sapiens-demens?
Desde quando, e por onde, e com que motivo tende este espectro, esta sombra, esta névoa feminil, a cogitar em possível êxtase inexplicável (e impalpável até) a improvável serenidade que permeia a mais comentada metamorfose maternal?
É acreditável a despreocupação e quase sorrível possibilidade de gerir vida?
O que se faz quando a percepção está acima da razão, e esta se estabelece em estado letárgico, fazendo-se despercebida e incondicionada; quando o mundo, a vida, dá a sensação de que nada mais deveria ser feito além da insustentável necessidade de apenas ser, humanamente, regido pelos instintos mais fugazes, mais selvagens, mais primais; quando o medo não é mais medo algum, é motor; quando as vontades, aquelas que fizeram voar o primeiro homem, a primeira bruxa, são viris, aguçadas, e são, uma a uma, alimentadas, desfeitas, e ressurgem como dinossauros?
O que se faz quando tudo (tudo) que deu sustentabilidade à existência, à sobrevivência, que fez mover ondas, caminhos, correntezas, areais, vendavais, que fez do sonho de voar a poesia mais doída, que fez da doença do sentir a intensidade do olhar, que fez das lágrimas, dos berros e dos soluços milhões de palavras soltas que bateram ao encontro de corpos quentes e necessitados; o que se faz? o que se faz com o desnecessário que isto se tornou? o que se faz com esta plenitude incongruente que afugenta o esfacelar alimentício do prazer mental e da alma corroída, que somente parece carregar consigo o que de simplesmente belo há no olhar, no estar, no existir sem pressa? o que se faz com o colorido ameno e eletrizante que apenas sabe se fazer num rastro de pureza aveludada?
O que é isto, meu deus, que me toma sem doer, que acomete sem afugentar, que cresce na epiderme sem dilacerar os tecidos, que trama, enovela, urge, surge, encrua, anoitece, envaidece, esverdeia, liquidifica, sonoriza, respira, enlouquece, desvaira, enraivece, desmantela, enleva, dissocia, aprisiona, acorrenta, adiciona, enlameia, corporifica, desmistifica, ressurge, permanece, deseja, arde, sustenta, queima e não esvai, gruda, amacia, lambe, continua?
Sim, continua...
ResponderExcluiro que é isso que me faz-me?
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