segunda-feira, 19 de abril de 2010

SEXTA-POESIA

talvez fosse esta a sensação que quiseste me fazer sentir...


como se em poucos minutos eu fosse lançada a um espaço de tempo
muito além do agora
- o agora de uns dias atrás -
nos dias em que as poucas horas eram meses de convivência
em que os sorrisos e risos e abraços
percorriam as vidas que não existiam ainda,
mas que esboçavam vontade


é a sensação de flutuar sem rumo, contra o vento
num vazio de conforto instável
tocando o chão com força em aterrissagens sem cálculo
na intenção de alcançar o espaço próprio
o tempo do crescimento das unhas
o local dos desvarios solitários


talvez fosse esta a sensação que quiseste me fazer sentir
a de estar no lugar da irrealidade dos sentires
de não pertencer ao profundo
a de não me sentir selvagem


tome de mim a mão, a seiva, o caos
tome a incongruência, o santificado, o abismo
tome a segurança do olhar, a boca, o erotismo
segure contigo a minha bolsa, o teu cigarro, a minha blusa
não largue nada
não abra as mãos
não afrouxe os braços
não arqueie os joelhos
permaneça em ti
que te solto ao léu
que te afago o rosto com as mãos azuis e lúcidas
na desmedida necessidade de aprender o nada.

Um comentário: